13 de dezembro de 2009

A Mensagem de 1888



Em 1888, as principais doutrinas da Igreja Adventista do Sétimo Dia foram discutidas na Assembléia da Associação Geral em Minneapolis, EUA. Neste domingo 13/12, tivemos uma excepcional palestra do Pr. Frederico Branco sobre o porquê desta Assembléia ter sido tão importante para a restauração progressiva da verdade desde os primórdios da Igreja, quarenta anos antes.

Segue aqui um resumo do que foi discutido.

Resumo

A discussão foi centrada nas divergências dos modelos soteriológicos - meios através dos quais se obtém a salvação - propostos por A. T. Jones e E. J. Waggoner (justificação pela fé) e U. Smith e G. I. Butler, estes dois últimos líderes da Igreja na época, acusados de ser semi-Pelagianistas pelas outras denominações evangélicas, devido à ênfase na importância das obras e no cumprimento da lei.

Dentre várias divergências debatidas na ocasião, a principal questão envolveu a interpretação de Gálatas 3:23-24. Seria a Lei referenciada por Paulo nesta passagem a Lei Moral, a Lei Cerimonial ou ambas?

De acordo com o livro A Mensagem de 1888, de George R. Knight, editado pela Casa Publicadora Brasileira, os pioneiros da IASD possuíam tendências de enfatizar a obediência à Lei, aos Dez Mandamentos mais precisamente, com uma abordagem predominantemente legalista e "perfeccionista".

O principal receio dos líderes da Igreja na ocasião eram o de que as idéias de Waggoner e Jones pudessem desviar a atenção dos adventistas da importância de obedecer à Lei de Deus (incluindo o Sábado), um dos principais pontos que distinguiam a IASD das demais Igrejas.

O livro discutido também mostra o papel da Sra. White em mediar o conflito e ressalta como os seus escritos abordam a questão da justificação pela fé. Outras questões discutidas foram a natureza divina de Cristo (refutação do Arianismo) e a Trindade e as interpretações dos reinos de Daniel 7, pontos não menos importantes que a justificação pela fé.

Conclusões

Pode o homem cumprir a Lei de Deus perfeitamente e, através desta obediência, obter a salvação? Seria a fé suficiente para se obter a Graça Divina? Sendo a fé suficiente, por que deveríamos ainda obedecer a Lei?

Teria sido Cristo capaz de pecar se assim quisesse? Quão sujeito ao pecado e suas conseqüências estava Cristo ao se tornar humano? Qual o papel de Cristo no juízo divino da raça humana? Seria o Espírito Santo capaz de guiar o homem caído a ponto de dar-lhe o dom da obediência à Lei Divina?

Você pode consultar estas respostas no livro Nisto Cremos, editado pela Casa Publicadora Brasileira, que contém a síntese do que pensam os adventistas do sétimo dia. Neste link é possível efetuar o download do livro em formato digital, bem como de apresentações sobre  cada capítulo.

A Trindade é discuida no Capítulo 2. O Capítulo 4 trata do Deus Filho. O texto a seguir resume a crença da IASD neste sentido:
Deus, o Filho Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio dEle foram criadas todas as coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e julgado o mundo. Sendo para sempre verdadeiramente Deus, Ele Se tornou também verdadeiramente homem, Jesus, o Cristo. Foi concebido do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria. Viveu, e experimentou a tentação como ser humano, mas exemplificou perfeitamente a justiça e o amor de Deus. Por Seus milagres manifestou o poder de Deus e atestou que era o Messias prometido por Deus. Sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar no santuário celestial em nosso favor. Virá outra vez, em glória, para o livramento final de Seu povo e a restauração de todas as coisas.
Sobre a Experiência da Salvação, discutida no Capítulo 10, temos:
Em infinito amor e misericórdia, Deus fez com que Cristo, que não conheceu pecado, Se tornasse pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus. Guiados pelo Espírito Santo, sentimos nossa necessidade, reconhecemos nossa pecaminosidade, arrependemo-nos de nossas transgressões e temos fé em Jesus como Senhor e Cristo, como Substituto e Exemplo. Essa fé que aceita a salvação, advém do divino poder da Palavra e é o dom da graça de Deus. Por meio de Cristo, somos justificados, adotados como filhos e filhas de Deus, e libertados do domínio do pecado. Por meio do Espírito, nascemos de novo e somos santificados; o Espírito renova nossa mente, escreve a lei de Deus, a lei de amor, em nosso coração, e recebemos o poder para levar uma vida santa. Permanecendo nEle, tornamo-nos participantes da natureza divina e temos a certeza da salvação agora e no Juízo.
Sobre a obediência à Lei de Deus, discutida no Capítulo 18, temos:
Os grandes princípios da lei de Deus são incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na vida de Cristo. Expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta e das relações humanas, e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as épocas. Esses preceitos constituem a base do concerto de Deus com Seu povo e a norma no julgamento de Deus. Por meio da atuação do Espírito Santo, eles apontam para o pecado e despertam o senso da necessidade de um Salvador. A salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas seu fruto é a obediência aos mandamentos. Essa obediência desenvolve o caráter cristão e resulta numa sensação de bem-estar. É uma evidência de nosso amor ao Senhor e de nossa solicitude por nossos semelhantes. A obediência da fé demonstra o poder de Cristo para transformar vidas, e fortalece, portanto, o testemunho cristão.
Outro livro que discute mais profundamente estas e outras perguntas é Questões Sobre Dourtina, publicado originalmente em 1957 nos EUA, agora com uma edição anotada em português publicada pela Casa Publicadora Brasileira.




Por fim, algumas passagens citadas pelo Pr. Branco durante a discussão:
Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Romanos 5.18
Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. 2 Coríntios 5.21
Controvérsias

No início do Século XX, A. T. Jones e E. J. Waggoner se associaram a J. H. Kellogg na proposição de doutrinas panteístas que dividiram a Igreja. Este fato tem sido usado por defensores do perfeccionismo e da salvação pela obediência à Lei para desmerecer as doutrinas apresentados em 1888. De qualquer forma, todos os registros indicam que o ambiente no qual foi realizado este debate era de hostilidade, conflito de egos e pouca fraternidade.

Estas questões ainda geram polêmica nos dias de hoje entre membros da IASD (e ex-membros). No site Adventistas.com, mantido por ex-membros e não endossado pela IASD, podemos encontrar, por exemplo, uma carta de um membro pedindo exclusão da Igreja apresentando argumentos sobre a Trindade e também uma resenha criticando o livro de George Knight.

Neste site há também o texto integral de um outro livro sobre a Assembléia de 1888, chamado 1888 Re-Examinado, de Robert Wieland e Donald Short.

Outros livros mencionados pelo Pr. Branco:

  • O Abalo do Adventismo, de Geoffrey Paxton (Título Original: The Shaking Of Advenstism)
  • O Templo Vivo, J. H. Kellogg (Título Original: The Living Temple)

Links adicionais sobre o assunto em inglês na Wikipedia:

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