6 de outubro de 2012

Disciplina Eclesiástica


I – Resumo 

O assunto disciplina eclesiástica suscita diferentes opiniões. Algumas denominações o ignoram completamente, apesar de ser bíblico. Tenho visto algumas discussões sobre este assunto. Às vezes, até mesmo em reuniões da Comissão Executiva da igreja onde me congrego este assunto aflora com opiniões diferentes.


Casos como o de Ananias e Safira (At.5), o imoral de 1 Cor.5, os falsos ensinadores de 2 João 1:10-11, e os mencionados em Tito 1:10, estabelecem a necessidade desta doutrina. Textos bíblicos não faltam para assegurar a escrituricidade do assunto.

É absolutamente desnecessário dizer que este artigo não esgota o assunto. Muito se pode ler nos livros denominacionais, em revistas, sítios e blogs da internet.

Escrevi este artigo porque tenho percebido que pecados envolvendo notadamente o 7º Mandamento são tratados com a remoção do nome do pecador da lista de membros da congregação, mesmo que o pecado tenha sido cometido apenas uma vez. O alarde provocado pelos mexeriqueiros de plantão encarrega-se de provocar um grande estrago o que acaba por ‘exigir’ uma satisfação a ser tomada pela congregação. Tenho notado que a disciplina eclesiástica pode significar uma punição e os seus efeitos deletérios para os envolvidos podem permanecer por décadas. Tenho visto também que os procedimentos de Mt 18 não têm sido seguidos. Além disso, aquela velha desculpa de "agora temos que visitar o irmão/irmã" é, na verdade, uma conversa vazia.

O objetivo deste artigo foi revisitar este assunto mostrando a necessidade da aderência aos padrões bíblicos. Trata-se de uma modesta reflexão a ser usada nos casos de pecados cometidos por irmãos e que sejam passíveis de disciplina eclesiástica. 



II – Análise do assunto

A Bíblia diz em 1 Coríntios 9.24: "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só é que recebe o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis." Isto exige disciplina. Isto vale nos esportes, nos estudos, para aqueles que querem perder peso e também na vida espiritual. A disciplina espiritual ou disciplina bíblica é importante para nós nos concentrarmos na vida cristã. Portanto, ela nos é útil e necessária.


A Disciplina Bíblica é um assunto citado em muitos textos da Bíblia. Na Almeida Revista e Atualizada, por exemplo, existem cerca de 40 citações desde Deuteronômio até o Apocalipse. Veja-se, por exemplo, Dt 8.5, Pv 3.1, Ef 6.4, etc.

A disciplina bíblica considera o que o SENHOR faz conosco e como os pais devem fazer com os seus filhos.

O Manual "Autoconfrontação" 
(BROGER, São Paulo,2006) diz

Disciplinar fielmente (treinar, educar, corrigir) o seu filho de maneira agradável ao Senhor é uma expressão de amor bíblico. A Palavra de Deus enfatiza que o propósito da disciplina bíblica é ensinar a pessoa a seguir no caminho de Deus e não do homem (Hebreus 12.9-11). No Antigo Testamento, a palavra traduzida com maior frequência como "disciplina" é quase que igualmente traduzida como "instrução". No Novo Testamento, a palavra traduzida com maior frequência como "disciplina" é também traduzida como "treinamento" ou "correção". 
A disciplina eclesiástica olha para outro aspecto. Ela se refere à ação da igreja em tratar com os membros que erram. Esta disciplina pode ser aplicada quando falharem todos os esforços para resgatar um membro de uma conduta imprópria e, em adição, uma ação adicional for necessária para preservar a reputação da igreja. Neste caso dois procedimentos são possíveis: um voto de censura ou um voto de remoção da qualidade de membro da igreja. (SDABC, Vol 10, 1976, p. 298)

A disciplina eclesiástica não deve ser considerada um assunto negativo. Embora a palavra "disciplina" nos leve a imaginar algo como a aplicação de um castigo físico ou a supressão de algo que é desejado, a disciplina deve ser vista como algo positivo. Por exemplo, uma árvore plantada que recebe suportes para poder se desenvolver corretamente, a educação de uma criança para saber que ela tem limitações, o uso de um aparelho de correção ortodôntica, uma multa por excesso de velocidade, a orientação para não se mastigar com a boca aberta e assim sucessivamente.

Sem dúvidas, nada há de errado com o conceito da disciplina eclesiástica. Mark Dever[1]lista a disciplina eclesiástica como uma das marcas de uma igreja cristã saudável.

Alguns textos bíblicos nos ajudarão a entender um pouco mais sobra a disciplina eclesiástica:

1. Hebreus 12.1-14.

Este texto nos diz que os filhos de Deus aceitam a disciplina (v 7) e que a disciplina é uma garantia do amor e do cuidado de Deus por nós (v 6). Portanto, Deus é disciplinador.

2. Mateus 18.15-17

Este texto é clássico quando se aborda o assunto "disciplina eclesiástica". Note o leitor que este texto bíblico apresenta 4 (quatro) vezes a palavra "se". A instrução dada por Jesus é clara: essa é a forma que nós devemos usar no tratamento com os irmãos com quem temos conflitos ou que têm cometido pecados escravizadores (reincidência específica) que possam trazer escândalos ou algum prejuízo para o nome da Igreja.

O SDABC referindo-se a "ir e mostrar o erro do irmão" diz (SDABC, Vol 5, 1976, p. 447) : 

"Isto é mais que um sábio conselho; é uma ordem. ‘Nós devemos procurar o irmão que errou e para falhas que nós deveríamos ter verificado e não fizemos, nós seremos tão responsáveis como aqueles que as praticaram’"
Muito importante é notar que a Bíblia enfatiza (Mt 18.17) que somente se a pessoa se recusar a ouvir a admoestação (duas vezes aparece a palavra "recusar" ou "não atender") é que o ofensor deve ser considerado gentio[2] e publicano[3].  

Referindo-se a Mt 18.15-17 o Manual da Igreja 
(MANUAL DA IGREJA, 2010, p.59) diz: 

"Nenhum oficial da igreja deve aconselhar, nenhuma comissão recomendar e igreja alguma votar a eliminação dos livros do nome de alguém que haja cometido falta, sem que as instruções de Cristo a esse respeito sejam fielmente cumpridas." 
Esta citação do Manual da Igreja é muito objetiva e forte. Esta clara instrução de Cristo deve ser seguida nos casos de disciplina eclesiástica. Deve-se ter em mente que o objetivo da disciplina não é aplicar uma "punição", mas uma ação para a restauração do irmão que cometeu o pecado à comunhão com o corpo de crentes e, principalmente, com o SENHOR.

3. 1 Corintios 5.1-11.

Este texto bíblico é o mais extenso sobre o assunto "disciplina". É minha posição que esta passagem não tem sido bem entendida quando se aplica a disciplina a irmãos que cometem pecados sexuais, notadamente a transgressão ao sétimo mandamento. Em outras palavras, existe uma grande diferença entre cometer o pecado sexual uma vez e cometê-lo habitualmente, muitas vezes. O texto de 1Co 5.1 se refere a um mesmo tipo de pecado cometido por algum tempo, isto é, muitas vezes. 1Co 5.11 cita outros pecados.

Veja-se o comentário de John R W Stott sobre este passagem: 

Mas, embora hoje possamos achar difícil pensar nos termos precisos aqui usados pelo apóstolo, não há razão para não tomarmos a sério e pormos em prática o conselho que ele dá, a saber, excluir da congregação os que são malfeitores notórios. Olhando o verso 11 adiante, vemos ali uma lista de pecados que devem ser tratados desse modo. Qualquer membro da igreja que peque dessa forma deve ser francamente condenado em face da congregação, fazendo-se ver a ele que Satanás o tem preso em tais práticas, afastando-se do seu convívio os outros crentes, na esperança de que venha a descobrir a gravidade de sua situação e se arrepender, de modo que seu espírito se salve no dia do Senhor Jesus (5).[4]
O NT na Nova Tradução na Linguagem de Hoje (SBB) assim traduz 1Co 5.1: 
"Agora estão dizendo que há entre vocês uma imoralidade sexual tão grande, que nem mesmo os pagãos seriam capazes de praticar. Fiquei sabendo que certo homem está tendo relações com a própria madrasta!" 
Chamo a atenção do leitor: o homem estava tendo um relacionamento sexual com a madrasta (ou, possivelmente, a viúva do seu próprio pai). Em outras palavras, não se tratou apenas de um evento isolado. Tratava-se de um pecado cometido por alguns anos, talvez.

Aqui a orientação de Paulo requereu ação imediata afirmando que o ofensor deveria ser entregue a Satanás, ou seja, excluído da lista de membros. Por quê? Porque se tratava de uma prática existente durante certo tempo (algumas versões dizem que aquele homem "vivia" com a esposa do próprio pai). O remédio precisava ser amargo, pois a condição era duplamente crítica: um homem dominado por um pecado escravizador e uma congregação que aceitava aquela situação.

Então, não podemos comparar um pecado escravizador continuamente praticado a um pecado isolado, um evento único. A comparação será um grave erro. São casos diferentes e não podem receber penalidades iguais. Casos diferentes devem ser tratados diferentemente. Não creio que este seja o caso na grande maioria das disciplinas de desligamento por quebra do 7º Mandamento!

Mark Dever 
(DEVER, 2009, p. 192) assim se expressa:
Por que Paulo disse tudo isso? Será porque odiava o homem? Não. Paulo o disse porque esse homem estava profundamente enganado. Pensava que poderia ser um cristão e, ao mesmo tempo, desobedecer deliberadamente ao Senhor. Ou talvez imaginasse – e a igreja lhe permitiu pensar assim – que não havia nada de errado em possuir a esposa de seu pai. Paulo mostrou que esse homem estava enganado e que, para ajudar alguém iludido e glorificar a Deus, você tem de mostrar-lhe a falsidade de sua confissão de fé, à luz da maneira como ele está vivendo.  
O Manual da Igreja (MANUAL DA IGREJA, 2010, p. 66) é claro ao comentar no item:
Prudência em Julgar o Caráter e os Motivos: "Cristo ensinou claramente que aqueles que perseveram em pecado declarado devem ser desligados da igreja; mas não nos confiou a tarefa de ajuizar sobre os caracteres e motivos"
Note o caro leitor que o texto do Manual da Igreja está em harmonia com o restante das citações feitas. A disciplina de remoção do nome da lista de membros da igreja só pode ser feita no caso de pecados[5] com reincidência específica praticados durante certo tempo e após os procedimentos de Mt 18 terem sido seguidos.

Não só no caso mencionado em 1Co 5.1, mas também no caso geral de pecados cometidos por membros de igreja, a disciplina, quando for aplicável, é necessária para (a) o bem do pecador, (b) por amor à pureza da igreja e (c) para o bem da sociedade em geral, pois a igreja não poderá ganhar pessoas para Cristo se ela mesma for semelhante ao mundo.

Barclay no seu comentário de 1 Co 5.1-8, diz:

"Aqui encontramos com um grande princípio de disciplina. A disciplina não deve ser exercida para a satisfação da pessoa que a aplica, mas sempre deve usada para corrigir a pessoa que pecou, e sempre pelo bem da igreja. Nunca deve ser vingativa, deve ser sempre preventiva e curativa".
O livroNisto Cremos diz (NISTO CREMOS, 2008, p. 201)
Embora seja verdade que todos pecaram e carecem da glória de Deus’ (Rm 3.23), ofensas flagrantes e rebeldes, que trazem opróbrio para a igreja, devem ser imediatamente tratadas com o desligamento do ofensor do corpo de membros. O desligamento tanto remove o mal – que de outra forma poderia funcionar como fermento – e assim restaura a pureza da igreja, como também age à semelhança de remédio redentor em relação ao ofensor.  
Deve ser notado que o livro Nisto Cremos fala em "ofensas flagrantes e rebeldes". A propósito, o que são ‘ofensas flagrantes e rebeldes’? No meu entendimento, ofensas "rebeldes" dão a ideia de algo continuado, persistente, praticado algumas ou muitas vezes. Portanto, a prática de um pecado de origem sexual (ou de outro tipo) apenas uma vez, não se configura causa justa para ser classificado como um pecado "rebelde" e, portanto, não se encaixa na necessidade do ofensor ser imediatamente desligado do corpo de membros. Ao contrário, ele precisa de orientação, ajuda, treinamento, perdão e não de uma disciplina de remoção do nome da lista de membros. A remoção imediata da lista de membros do nome de alguém que praticou apenas uma vez o pecado considerado passível deste tipo de disciplina pode ter efeitos colaterais perversos. Em outras palavras, o irmão disciplinado pode não mais voltar ao redil da igreja. As consequências podem ser eternas.

4. Gálatas 6.1

Este texto é importante no contexto de algum irmão que for apanhado em pecado. Os irmãos da congregação devem trabalhar sempre no sentido de restaurar aquele que foi apanhado em pecado. O SDABC é bem claro neste ponto sobre Gl 6.1:

Paulo aqui se refere ao fato que um cristão pode, em um momento de fraqueza, ou de preguiça espiritual, cometer um pecado, porém ele não é um hipócrita obstinado. Ele tinha o propósito de andar no Espírito, porém caiu em tentação. Nesta situação o crente que pecou deverá ser restaurado. (SDABC, vol 6, p. 984)
Ο apóstolo Paulo usa καταρτιζετε que é a segunda pessoa do plural do presente do imperativo ativo do verbo καταπτιζω [kataptizo], cuja tradução pode ser "colocar em ordem, restaurar". O NT Interlinear (SBB) traduz como "restaurai" e a Bíblia Almeida Revista e Corrigida diz "encaminhai". Portanto, trata-se de uma ordem.

O mesmo SDABC continua: 

Aqueles que permaneceram "espirituais" não devem tomar uma atitude pré-concebida quanto ao irmão que errou diante dos ataques ferozes da tentação. Eles não devem desencorajá-lo seja por crítica ou por censura ou, pior, provocando-o a ser indulgente quanto às obras da carne.
5. 2 Ts 3.6-15, 1Tm 1.20, 1Tm 5.19.20 e Tt 3.9-11

Estes 4 (quatro) textos apresentam conselhos e orientações de Paulo sobre a disciplina.


Mark Dever comenta:

Considerando juntas todas estas passagens, vemos que Deus Se interessa em que entendamos a Sua verdade e que a pratiquemos em nosso viver. Ele Se interessa especialmente em que vivamos juntos como cristãos. Todas as situações mencionadas nestas passagens são, de conformidade com a Bíblia, áreas legítimas de nosso interesse – áreas em que nós, como igreja, devemos exercer disciplina.
Mais uma coisa: Você observou quão sérias eram as consequências que Paulo ordenou nestas descrições da disciplina eclesiástica? "Para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou..." (1Co 5.2); "Seja ...entregue a Satanás" (1Co 5.3,5); "Não vos associásseis com...esse tal"(1Co 5.9,11); "Que vos aparteis...(2Ts 3.6); "Notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado"(2Ts 3.14,15); "Entreguei a Satanás" (1Tm 1.20); "Repreende na presença de todos" (1Tm 5.20); "Foge também destes"(2Tm 3.5); "Evita o homem faccioso" (Tt 3.10). (DEVER, 2009, p. 195)

O Manual da Igreja lista 13 razões pelas quais os membros estão sujeitos à disciplina[6], porém não afirma que a remoção deve ser imediata, sem análise, sem se levar em conta os porquês e, principalmente, sem se considerar o número de vezes que o pecado foi cometido. A interpretação que a remoção deve ser imediata e automática não está contida no Manual da Igreja, na Bíblia e nem no Espírito de Profecia. A posição do Manual da Igreja é clara: os PROCEDIMENTOS de Mateus 18 devem ser seguidos.

No item Disciplina por Remoção da Condição de Membro do Manual da Igreja está escrito:

A remoção de um indivíduo de sua condição de membro da igreja, o corpo de Cristo, é a disciplina final que a igreja pode administrar. Unicamente após haver seguido a instrução dada neste capítulo[7], depois da orientação do pastor..., e depois de terem sido feitos todos os esforços para conquistá-lo e restaurá-lo ao caminho certo, deve um indivíduo ser removido de sua posição de membro da igreja. (MANUAL DA IGREJA, 2010, p. 65)
Tratei acima da questão da disciplina eclesiástica, porém não considerei os porquês da disciplina ter sido necessária em nossas igrejas (embora aplicada incorretamente na maioria das vezes!).

Estou convicto que o clero distrital não tem feito o seu papel de Treinador do "rebanho" que lhe foi confiado. O principal papel do pastor é ser um treinador de acordo com as instruções de Paulo mencionadas na sua carta aos Efésios (Ef 4.11). Os pastores são mestres, segundo este texto. Por "mestres" devemos entender "professores", "instrutores" ou "treinadores".

O Pastor Russell Burrill deixa claro:


"...a tarefa do pastor é a de alguém que treina e equipa os membros para executarem o ministério que lhes compete. O Novo Testamento vê os clérigos não como executantes do ministério, mas como treinadores (formadores) de pessoas, preparando-as para os seus ministérios"
(BURRILL, 2000, p. 50)
Ele continua: 
A maioria dos pastores pode achar que a pregação é a sua função principal. E muitos leigos podem pensar da mesma maneira. Embora não minimize a importância da pregação e a grande necessidade que temos de uma pregação forte, bíblica na igreja Adventista, Ellen White afirma enfaticamente que o papel do pastor de ensinar ou
equipar deveria tomar mais tempo do que a pregação. Mas a maioria dos pastores gasta muito mais tempo a preparar e a pregar sermões do que a ensinar aos membros como realizarem o seu ministério. (BURRILL, 2000, p. 51)
Como se estes textos acima não bastassem, veja este:
O conselho dado por Deus à esta igreja a este respeito [que o pastor é um treinador][8] é tão forte que Ellen White chega a dar a entender que qualquer pastor que está a realizar o ministério em vez de estar a treinar e formar os seus membros para o ministério devia ser despedido. Parece duro, mas é o que ela diz. (BURRILL, 2000, p.55)
Minha sugestão para os pastores distritais é que, dentro do pacote de treinamento que lhes compete dar para as suas congregações, sejam inseridas entrevistas com cada casal (ou mãe ou pai, no caso de viúvos, separados ou quando um deles não for Adventista), visando orientar, ajudar, dirimir dúvidas, sugerir comportamentos e atitudes, apontar falhas, etc. Sem dúvida, esta ação pode diagnosticar potenciais problemas e evitar pecado futuros.

Estas entrevistas devem ser realizadas anualmente e envolver todos os casais da igreja, bem como os jovens. Elas devem ser conduzidas pelo pastor e sua esposa. O sítio da Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos tem os formulários que podem ser utilizados nestas entrevistas.
[9] Esta ação é uma importante e poderosa ferramenta à disposição do pastor na orientação do seu rebanho.

Da mesma forma os jovens da igreja devem ser entrevistados. Além de o pastor poder diagnosticar precocemente eventuais problemas nos jovens, esclarecimentos e orientação quanto à sexualidade, aos namoros, como escolher os namorados (as), cuidados com drogas, sugestões para cursos acadêmicos, para orientação profissional, etc., podem ser dados. O Pastor e sua liderança podem convidar médicos, advogados, psicólogos cristãos de confiança para ministrar palestras para os jovens (moços e moças, separadamente se aplicável). Esta ação é uma poderosa ferramenta para ser usada no treinamento da congregação.

Esta prática não tem sido feita entre nós. Não tenho dúvidas que as consequências desta omissão têm sido perversas para muitos. O pecado da ação pode afetar alguns e o da omissão afeta muitos. Infelizmente.

Vieira diz 
(VIEIRA, São Paulo, p.125) 
"A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificilmente se conhece, raramente se emenda. O pecado da omissão é o pecado que se faz não fazendo."
Como estes dois pontos não bastassem (aplicação errada da disciplina e falta de treinamento), temos também a considerar o seguinte:


1. As pessoas que estão se unindo à Igreja normalmente não têm recebido as informações sobre o assunto "disciplina". Isto é um erro. Em outras palavras, nós não avisamos as pessoas que estão se unindo à igreja sobre a responsabilidade que elas estão assumindo. 

2. Da mesma forma nós não entendemos a seriedade do compromisso que fazemos com elas quando elas se unem à igreja e também nós não lhes informamos sobre a seriedade do compromisso que estão fazendo conosco. 


3. Vale a seguinte regra: "Se nós formos mais cuidadosos no que diz respeito a como reconhecer e receber novos membros teremos menos ocasiões de praticar a disciplina corretiva da igreja". 


4. Considero importante a questão de se visitar o irmão faltoso procurando restaurá-lo à plena comunhão da congregação ou ajudá-lo de alguma forma a superar o trauma causado por uma remoção do nome da lista de membros da igreja (supondo-se que este tenha sido o caso). Em resumo, a demonstração de amor é um item que falta na nossa prática cristã. Os irmãos, em geral, não têm trabalhado para restaurar aqueles que foram disciplinados, notadamente se a disciplina foi a de remoção do nome da lista de membros. Como disse um pastor "Nós somos muito bons para pregar a verdade, mas somos medíocres para vivê-la". 


Diz-nos a Sra. Ellen White: 


Sejam todos os teus esforços no sentido de o restabelecer [o irmão que praticou o pecado]. Exige o mais delicado tato, a mais fina sensibilidade, o tratamento das feridas da alma. Unicamente o amor emanado da Vítima do Calvário pode aí ser eficaz. Mas mesmo esse esforço poderá ser infrutífero. Então, disse Jesus, "leva ainda contigo um ou dois". Talvez sua influência unida prevaleça onde a do primeiro fora mal sucedida. Não sendo partes na questão, estarão mais aptos a agir com imparcialidade, e isso dará à sua opinião mais peso diante do que se acha em falta. Se ele não os atender, então, e somente então, o assunto deve ser levado perante o inteiro corpo de crentes. Que os membros da igreja, como representantes de Cristo, se unam em oração e amoráveis súplicas para que o ofensor seja restaurado. (grifo acrescentado) (WHITE, 1976, p. 426) 
Note o leitor que a Sra White não diz: "para que seja disciplinado". 

A busca pela restauração de membros não tem sido praticada pelas congregações. Temos aqui uma característica do fim dos tempos: o esfriamento do amor. Não se trata do amor das pessoas do mundo em geral, mas das pessoas cristãs, que estão nas igrejas. 


5. O Manual da Igreja é claro ao dizer que a leitura da ata no caso de remoção de membros só pode ser feita em reuniões administrativas especificamente convocadas.[10] Este é outro ponto que não tem sido seguido na grande maioria das congregações. 


6. No item Direitos Fundamentais dos Membros está escrito: 


"Será feita uma notificação por escrito, pelo menos duas semanas antes da reunião, incluindo-se as razões para a reunião disciplinar." (Manual da Igreja, 2010, p. 67) 

Pergunto ao leitor: Você já viu esta carta ter sido emitida? 

Considerando o exposto acima, a pergunta que surge é "Como proceder nos casos de quebra do 7º Mandamento (ou outro pecado passível de disciplina de remoção do nome da lista de membros)?". 


III - Proposta 


A minha proposta é a seguinte: 


O Pastor visita o irmão que cometeu o pecado e propõe que ele peça perdão à Congregação, demonstrando genuíno arrependimento. 


a. A reunião administrativa á agendada e, inicialmente, o Pastor lembra que o pecado tem muitas consequências indesejáveis, que ninguém está satisfeito com o pecado cometido, que todos de certa forma foram atingidos, etc. Logo após, o irmão pede o perdão diante de todos (caso ele tenha aceitado a proposta). Se se tratou de um pecado de origem sexual e ambos (homem e mulher) sejam da mesma congregação, então ambos devem ir à frente para o pedido de perdão. 


b. O Pastor pergunta para a Congregação se todos concordam com o pedido, após ter explicado os motivos da reunião. 


c. Supondo-se que a resposta da Congregação seja "Sim", então o Pastor solicita que aqueles que quiserem, abracem o irmão e, mantenham-se à frente, todos juntos. 


d. O Pastor ora por todos e especialmente pelo irmão que cometeu o pecado, pedindo as bênçãos de Deus na vida de todos e, em particular, na vida do irmão considerado. 


e. Os membros da Congregação são convidados e manter um programa de visitação ao irmão que foi objeto da reunião. 


Note o leitor que, neste caso, aquilo que normalmente é um fato que pode provocar adrenalina, ressentimentos pessoais e desagregação, torna-se uma festa espiritual, com perdão francamente demonstrado, e uma força propulsora para aumentar e solidificar relacionamentos. É a solução ganha-ganha, portanto melhor para todos. 


Esta é a minha proposta. 





Referências Bibliográficas

  • BROGER, John C. Autoconfrontação – Um manual de discipulado em profundidade. Biblical Counseling Foundation, São Paulo, 3ª. Edição, 2006. 
  • BURRILL, Russell. Revolução na igreja. 2ª. Edição, Almargem do Bispo (Portugal): Publicadora Atlântico, 2000. 
  • DEVER, Mark. Nove marcas de uma igreja saudável. São José dos Campos: Editora Fiel, 2009 
  • MANUAL da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 21ª. Edição, Tatuí: CPB, 2011 
  • NISTO Cremos. 8ª. Edição, Tatuí, CPB, 2008 
  • SDABC, Edição de 1960, Volumes 5, 6, 8 e 10. 
  • VIEIRA, Antonio. Os Sermões, Difusão Europeia do Livro, 
  • WHITE, Ellen G. O Desejado de todas as nações. Santo André, CPB, 1976.

Notas de Rodapé
  1. DEVER, Mark. Nove Marcas de uma Igreja Saudável, Editora Fiel, p. 184 
  2. Gentio – Genericamente falando significa aquele que não era judeu na fé ou na etnia. Os escritores judeus aplicavam o termo "gentio" àquelas etnias ou nações não descendentes de Abraão e, assim, o termo passou a designar a ênfase da diferença étnica ou espiritual entre judeus e as nações que os rodeavam. As bênçãos da salvação estão abertas a todos, tanto judeus como gentios. 
  3. Publicano – Roma vendia o direito de coletar impostos para pessoas de influência nas cidades dominadas na Palestina. Esta venda era feita via leilão, pois o Império Romano não coletava impostos diretamente. As pessoas que ganhavam tal direito podiam levar vantagens ou ter prejuízos. Estas pessoas subcontratavam outras, que eram chamadas de coletoras de impostos ou publicanos. O sistema era auditado por Roma. Normalmente tais coletores de impostos eram judeus. Os publicanos eram detestados pelos judeus, pois se pagar impostos a Roma já era muito ruim, ajudar Roma a coletá-los era muito pior. Os publicanos, com algumas exceções, extorquiam seus compatriotas sob a conivência os soldados romanos. Eles viviam, como resultado, em ostracismo na sociedade, evitados tanto quanto possível e raramente vistos no Templo. Ver SDABC, Edição de 1960, Vol 8, p. 892 
  4. http://bibliotecabiblica.blogspot.com.br/2009/06/comentario-de-jw-scott-1-corintios-51.html, 24 Jul 2012, negrito acrescentado. 
  5. Pecados listados no item "Razões para Disciplina", página 64 do Manual da Igreja, edição de 2010. 
  6. Manual da Igreja, Edição de 2010, p. 64 
  7. Nota do autor: Basicamente, as instruções do capítulo se referem aos procedimentos de Mt 18.15-18. 
  8. O texto entre colchetes foi inserido pelo autor desta matéria para esclarecer melhor o contexto. 
  9. www.abcb.org.br 
  10. Manual da Igreja, edição de 2010, p. 66 

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